Hábitos bons

Hábitos bons

Por Maeli Galdino

Nesse início de ano, o que mais tenho visto são reels rápidos sobre dicas de hábitos a serem cultivados. Quero fazer o mesmo, só que devagar, com mais profundidade, sobre hábitos que considero que são realmente formadores (não deformadores).

Nossos hábitos, as coisas que fazemos de forma mais natural na vida, são o reflexo do que amamos, do que anseia o nosso coração.

Todos têm hábitos. A diferença é se eles são majoritariamente bons ou maus. Formadores ou deformadores.

Em “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, Harry se depara com um item mágico de nome “Espelho de Ojesed” que, ao contrário, significa “desejo”. Refletido nele, Harry via seus pais mortos, o maior anseio do seu coração. Voltando ao mundo real, e se fossemos nós, o que veríamos? O que o espelho exporia sobre o seu coração?

Os hábitos são o nosso Espelho de Ojesed. Podemos nos analisar no dia a dia e enxergar o que estamos amando. Por exemplo, onde você passa mais tempo navegando no celular? O que você mais vê? Aqui temos uma resposta. Infelizmente, ela não costuma ser a que esperamos. E mais, nossos hábitos retroalimentam nossos amores. Amamos coisas erradas de formas erradas e por motivos errados e elas geram hábitos errados em nós. E a recíproca é verdadeira: hábitos errados alimentam ainda mais amores errados.

Precisamos ter consciência disso, e intencionalmente batalhar para transformar essa realidade. Apenas em Cristo, nosso coração, nossos anseios são satisfeitos. Em Cristo, nossos hábitos são transformados e se tornam bons, úteis, abençoadores. Em Cristo, amamos e somos amados. Nossos hábitos são das coisas mais importantes em nossas vidas. Juntos, vamos esquadrinhar esse aspecto e diagnosticar o que verdadeiramente temos amado no lugar do nosso Senhor. Para que, então, sejamos pessoas novas, vestidas do Senhor, andando nEle também nas atitudes, no “quer comais, quer bebais” - nos hábitos.

Amar a Deus sob todas as coisas

Começamos, primeiro, pelo hábito de amar a Deus.

Parece óbvio? Mas vamos falar sério: uma porcentagem alta de nós não possui o hábito de estar com Deus, de buscá-Lo pela sua mensagem, de orar a sua Palavra com a frequência e constância necessárias, de amá-Lo. Acreditamos que fazemos isso. Mas, normalmente, a realidade é muito diferente.

Não estamos com o Pai no nosso dia a dia. Somos mais acompanhados pelas distrações que carregamos nos nossos celulares, pelos nossos trabalhos e estudos, nossa família. Todas essas coisas ocupam o nosso tempo e são nossos verdadeiros companheiros. Elas não são más em si (a nossa família, por exemplo, não é uma benção de Deus?). Mas quando elas ocupam o lugar do Pai, da prioridade que Ele deveria ter, elas demonstram algo perigoso em nosso coração: o que realmente amamos.

Nossos hábitos, as coisas que fazemos de forma mais natural na vida, são o reflexo exato do que amamos, do que anseia o nosso coração. E, sabemos que o que devemos amar em primeiro lugar é ao Senhor. Isso deveria ser algo tão natural para nós a ponto de se tornar um hábito. Como Cristo, que no seu cotidiano tinha espaços para contatos diretos com o Pai, e ainda mantinha o seu espírito acompanhado dEle dia e noite.

Jesus, como Filho, era companheiro de seu Pai. O buscava, conversava com Ele, O ouvia, era influenciado e moldado por Ele. De forma natural, porque O amava, porque Ele era o Senhor do seu coração, esse era o hábito dEle.

O nosso amor a Deus culmina na transformação da nossa vida como um todo. Por isso, Cristo, quando pergunta a Pedro “tu me amas?”, completa com “apascenta as minhas ovelhas”. Jesus está falando: “aja como tal, seus hábitos não estão demonstrando o seu amor!”. Não à toa, amar a Deus, intencionalmente, colocá-Lo como centro das nossas vidas, é o hábito mais importante a ser cultivado este ano, se irradiando em todos os demais hábitos.

A jornada é longa, o processo é gradual. Precisamos estar conscientes, vigilantes, prontos a todo dia recalibrar e reordenar os nossos corações para amar o Senhor mais e mais. Sem isso, todo o resto, é correr atrás do vento.

Fortalecimento

Em corpo, mente e espírito, precisamos ser fortes e corajosos! E a força não é meramente uma questão de ser ou não ser, é uma questão de BATALHAR PARA SER.

Estou, no momento, diagnosticando, junto aos médicos, um provável quadro de fibromialgia e identificando coisas atreladas à saúde física e mental que geraram problemas no meu corpo. E, fica claro para mim o quanto isso não foi falta de força, mas de fortalecimento. E a verdade é que todos precisamos de fortalecimento.

Fortalecimento do corpo, de modo nutricional, esquelético, muscular e tantas outras coisas. 

Fortalecimento da mente, num sentido cognitivo, de desenvolvimento e conhecimento, e para lidar com estresse, ansiedade, traumas, e até com as conquistas e alegrias.

Fortalecimento do espírito, nutrindo por meio da Palavra, saciando a sede pelo Espírito Santo, estimulando os músculos da alma em intimidade com Deus. Certos de que o único em quem a força é total é o Senhor - de quem, graças a Deus, dependemos, confiamos e nos entregamos nos momentos de fraqueza.

Fortalecer é a chave para estarmos de pé, gerarmos frutos e amarmos a Deus. Não somos fortes sem intencionalidade em reforçar os músculos, em esticar nossos limites. Precisamos nos fortalecer, enquanto tudo ainda não se faz novo, para ter coragem de enfrentar os desafios e mantermos as estruturas firmes, mesmo que atingidas e com retalhos.

O fortalecimento deve se tornar um hábito, um modo de pensar e de viver. Devemos tomar decisões, escolher caminhos, investir em coisas que nos fortalecem! E não em coisas que nos enfraquecem. O Senhor está ao nosso lado também, nos permitindo viver naquilo que nos forja com o fogo ao mesmo passo que na sua graça preciosa, para nos moldar.

Se Josué me der a licença poética: nos fortaleçamos e, assim, sejamos mais corajosos! Não desanimemos, pois Ele, nosso Deus forte, está conosco e nos ajuda a manter as bases firmes. É em razão dEle que podemos fortalecer nossos músculos da vida.

Qual músculo você tem precisado fortalecer mais? Do corpo, da mente ou do espírito?

Limite-se

Na nossa sociedade, a palavra limite é odiada. Pra que limites? Quem em sã consciência quer limites? Queremos ser livres!

Mas, na verdade, como o Senhor nos ensina, os limites são um instrumento de libertação para nós. Ele mesmo nos limita ao nos criar, em nossos corpos, circunstâncias, interesses, relações. E isso não é uma consequência da queda. É assim desde o Éden. Adão e Eva tinham corpos, tarefas específicas, coisas que poderiam fazer, coisas que não poderiam. A terra tinha delimitações que davam a ela sua funcionalidade (antes, era sem forma e vazia). E isso tudo porque era bom, era útil, era a perfeita vontade de Deus.

Mas, foi diante desse limite, que pecamos. A nossa recusa aos limites nos levou onde estamos. E, desde então, o Senhor reincide em tentar nos ensinar: limites são bons para vocês. Quando recebemos e definimos limites para as nossas vidas, ela é melhor!

Na palma da sua mão, você tem uma tecnologia que cria a ilusão de ilimitação total. Ela finge que você pode fazer tudo em todo lugar ao mesmo tempo (uma boa dica de filme, por sinal), falar com qualquer pessoa a qualquer momento, dar suas opiniões sobre tudo, saber sobre tudo. Parece magnífico, não? Não. Você sabe muito bem o que acontece quando decide desenfreadamente consumir esses falsos nutrientes instantâneos.

Parece que é liberdade, mas é escravidão, é correr atrás do vento. Todos escravos do que não conseguem deixar de fazer. Olhos vidrados, dedos frenéticos, imersos no ruído, desconcentrados, descontrolados, crendo que estão no controle por ter o controle na mão. Mas o controle já se apoderou de você!

A beleza é sobre dar forma ao informe, dar função ao inútil, ordenar o disperso. O que é totalmente cheio é totalmente vazio. Os limites são os moldes tão belos da vida. O Senhor usa esses moldes para nos tornar jarros mais precisos, cada um com sua forma e utilidade, todos para o Seu louvor.

Entender isso é fundamental para, num mundo em que tudo BERRA por mais, entoarmos nossas vozes, com notas afiadas (notas musicais são limites no som), em cânticos de graças ao Senhor. Não berrar - mas cantar. Limite-se.

Nutra-se: consuma o que te mantém vivo

A nutrição é um hábito essencial. Todos sabemos que, sem comer, morremos. Os elementos presentes no alimento que ingerimos é transformado em vida no nosso organismo. O Senhor quis que, por meio do que consumimos, fizéssemos a manutenção da nossa vida! Tudo o que “colocamos pra dentro” de nós, nos forma, compõe quem somos, compõe nossa vida. Em corpo, mente e espírito, estamos sempre digerindo, sempre em formação.

Porém, o que é trágico nisso é que nem tudo o que ingerimos é nutrição. Pelo contrário, boa parte dessas coisas é degradante, é destrutiva em nós. Aquilo que era pra ser vida, é morte. E, pior, essa coisa degradante é muito saborosa. Nesses tempos, estamos empanzinados delas: os fast-foods que fazem mal ao organismo biológico, assim como os vídeos processados que fazem mal à mente, e a falta da Palavra de Deus que desnutre o espírito. Consumimos, consumimos, consumimos. E o resultado que temos é morte! Somos empanturrados desnutridos. Mortos por dentro.

A boa notícia é que ainda há tempo! O Senhor colocou em nós uma capacidade maravilhosa de regeneração. Não tem segredo, os alimentos certos geram os nutrientes certos. Não demora muito a sermos novos e vivos! No começo, o gosto pode não parecer o mais agradável. Mas, com o tempo, nossos hábitos de consumo amadurecem e começam a sentir o verdadeiro deleite em provar e ingerir aquilo que o Pai reservou para nós. Como um bom Pai, ele separa o melhor e nos chama para sentarmos com Ele à mesa. Ele nos oferece entrada, prato principal e sobremesa, até o cafezinho Ele nos dá. Na medida certa, Ele nos guia e nos alimenta bem e com prazer!

E, nessa nova dieta, é fácil perceber a diferença. O desnutrido se torna nutrido, enérgico, vivo. Se sacia com o suficiente e louva a Deus pela provisão. Não mais é a pessoa que compulsivamente ingere apenas o que dá prazer momentâneo. Tem autodomínio diante dos inúmeros vídeos vazios que, antes, nem piscava ao assistir. Busca ao Senhor todo dia, e se alimenta do maná que Ele oferece. Faz leituras ritmadas de bons livros, come frutas e vegetais (e as vezes um bom chocolate cai bem também), aproveita a presença das pessoas com quem se relaciona. Enfim, se alegra no Pai que nunca deixou faltar os nutrientes que o formam. Está vivo, e abundantemente vivo, pois o Espírito Santo o capacitou a consumir bem. E como é bom, agora, se alimentar dos verdadeiros nutrientes, sentindo o sangue vitaminado correr pelas veias do corpo, da mente e do espírito. Na eternidade seremos plenamente assim, cheios, completos, nutridos em Cristo. Até lá, faça o melhor que puder, ok? Volte no hábito 2, e esforça-te!

Deleitar-se em Cristo

Como a Parábola dos Talentos nos ensina, o fruto da vida fiel, segundo os propósitos de Deus, é a nossa ALEGRIA. Alguns teólogos entendem que em Mateus 25:21 este termo praticamente representa uma festividade! Não há recompensa maior do que receber o deleite em Cristo: e é isso que o Pai misericordiosamente nos dá! Alguém a serviço de outra pessoa, por exemplo, numa empresa, esperaria dinheiro, reconhecimento, status. Não se espera alegria, até porque mesmo a sociedade tem a mínima consciência de que nenhum ser humano pode oferecer isso a outro. Mas, os que estão a serviço do SENHOR, estes recebem o que ninguém pode dar, o que não se pode conquistar com as próprias forças, é dado por graça. A misericórdia de Deus conosco é tão grande, que aquilo que devemos cultivar, Ele nos dá, Ele nos enche! E isso é maravilhoso por, quando vivemos o desafio de desenvolver bons hábitos aos pés da cruz, sabermos que não estamos sozinhos, que Ele nos dá e nos capacita todos os dias mais e mais para conseguirmos. Mais do que nós, Ele deseja que vivamos uma vida abundante, do início ao fim, do acordar ao dormir, em cada hábito das nossas vidas.

Mas, ao mesmo passo que é dado por graça, precisamos nos envolver neste processo. Como o servo bom e fiel, que realizou seu trabalho com maestria, administrou bem os recursos que o senhor deixou aos seus cuidados, para a honra e glória apenas do próprio senhor, pois nada daquilo que ele gerou seria dele no final, e ele sabia disso, e ainda assim ele fez, e fez muito bem - mas o mistério está também aqui: ele não fez isso “sozinho”, pois sozinho não seria capaz. Assim nós devemos ser! Viver para a glória dEle, e consequentemente viver para adorá-Lo e encontrar nEle o nosso inteiro prazer.

Esse prazer, como nos diz John Piper, encontra seu ápice na adoração espontânea e verdadeira ao Senhor! Pois o louvor não só expressa, mas completa a alegria que temos em Deus! Você não rasga palavras de elogio e amor àqueles ou aquilo que ama? Você não consegue segurar suas expressões, porque elas são necessárias para consumar o seu prazer. Assim devemos ser diante de Deus!

Então, o 5º e último bom hábito desta série é o melhor de todos, é a busca por deleitar-nos em Cristo, alegrarmo-nos nEle, louvando o nosso Senhor para sempre! Este hábito é, ao mesmo tempo que um esforço, um fruto. Ao passo que mais buscamos intencionalmente, mais Deus nos dá. Devemos desejar que esta seja a nossa 1ª natureza, o mais autêntico em nós. Algumas vezes será, nossos corações ficarão cheios de amor e prazer no Senhor. Mas há momentos em que estaremos apáticos, a carne prevalecendo em nós, sem vermos saída. Isso acontecerá, com todos.

Quando falamos de hábitos espirituais, temos que saber que há algo mais em jogo, a batalha espiritual é grande, interna e externamente. Em todo tempo, porém, contamos com a misericórdia do Senhor, pois Ele já venceu a luta. Devemos perseverar nEle, até a sua volta, onde viveremos em pleno gozo eternamente. Se pudermos, daqui, desfrutar desse destino glorioso, melhor ainda! Então, cultive o hábito de alegrar-se e louvar ao Senhor! Deleite-se em Jesus.

Deixe um comentário

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de privacidade e os Termos de serviço do Google se aplicam.